domingo, 9 de fevereiro de 2020

Técnicos questionam escolha de ônibus



Representantes da Mercedes-Benz levantam dúvidas sobre tipo de veículo previsto em licitação



O edital da licitação do transporte público lançado no final do ano passado prevê 339 veículos elétricos de um total de 785 veículos da frota




Técnicos da montadora alemã Mercedes-Benz questionaram pontos da licitação do transporte urbano em Campinas, durante a audiência pública realizada na noite de quinta-feira, no auditório da Universidade Presbiteriana Mackenzie. De acordo com eles, um dos modelos de veículos previstos para operação na cidade — o ônibus articulado elétrico a bateria — sequer está disponível no mercado nacional. A realização de audiências públicas é uma recomendação do Ministério Público, que concluiu ter havido pouca participação popular no processo de elaboração do edital.
“Estranhamos a previsão desse equipamento, pois ele não está disponível no mercado e, portanto, não é homologado para uso”, disse o engenheiro de produção da montadora, Orlando Zibini. “Como é possível prever o uso de um equipamento que ainda não está disponível no mercado?”, pergunta ele. O edital lançado no final do ano passado prevê 339 veículos elétricos de um total de 785 veículos da frota.
Outro questionamento feito pelo engenheiro é o fato de atualmente no Brasil existir apenas um fabricante de ônibus elétricos a bateria. “Em uma licitação desse porte é interessante tanto para o operador quanto para o usuário, que é quem paga a tarifa, ter opções de escolha de equipamentos mais viáveis, com custos menores de aquisição e de operação que esses ônibus elétricos a bateria”, pondera ele.
Também engenheiro de produto da fabricante alemã, Mike Munhato enfatizou a importância de o operador ter a possibilidade de escolher opções mais viáveis. “Da forma como foi colocado, não é possível escolher a melhor tecnologia e, com isso, a tarifa tende a ser muito elevada e, assim, afastar o passageiro do transporte”, avalia ele.
Para Orlando Zibini, existem opções mais viáveis e baratas no mercado que podem trazer, no curto prazo, mais ganhos para a comunidade e meio ambiente. Ele citou como exemplo o HVO (óleo vegetal hidrotratado, em português) ou diesel verde, uma tecnologia em fase bastante adiantada e que apresenta resultados significativos na redução da emissão de poluentes.
A LICITAÇÃO PREVÊ
135 linhas
785 veículos (386 básicos, 121 padrons; e 278 articulados)
399 veículos com ar-condicionado (do total de 785)
339 veículos elétricos (do total de 785)
100% da frota acessível
70,8 mil lugares ofertados
450 mil passageiros diários
13,4 mil viagens por dia
194,4 mil km rodados diariamente (4,85 voltas na Terra)
R$ 7,40 bilhões de contrato (15 anos)
R$ 870 milhões de investimento em frota e infraestrutura
R$ 60 milhões de subsídio estimado (anual)
“Se o HVO for aplicado a 100%, a redução das emissões de CO2 chega a 90%, dependendo da fonte da qual ele é produzido. Entre os materiais utilizados para fazer o diesel verde estão o óleo de soja, restos de gordura animal, lixo orgânico e até esgoto doméstico”, explica ele.
Outra vantagem apontada pelos técnicos é a de que a redução de poluentes não ficaria restrita apenas aos novos veículos que entrariam em circulação na cidade. Segundo eles, os atuais veículos poderiam ser abastecidos com a mistura do HVO em qualquer proporção de diesel S10. “Trata-se de um combustível drop in, que pode ser misturado ao diesel sem a necessidade de alterações mecânicas”, informam.
A Mercedes defende o uso do HVO como solução transitória e, no momento, mais viável até que os veículos elétricos estejam mais desenvolvidos e com menor custo. Atualmente, segundo a fabricante, enquanto um ônibus movido a diesel custa cerca de R$ 420 mil, o veículo elétrico a bateria pode chegar a R$ 1,6 milhão.
Por isso, os técnicos recomendam prudência para caminhar com a tecnologia da tração elétrica no transporte urbano. “É importante salientar que um único ônibus elétrico a bateria consome o mesmo que 70 residências por dia, ou seja, cerca de 350 kWh. Para fazer uma implantação em larga escala é imprescindível o bom dimensionamento da rede de transmissão elétrica, além de definir os horários e escalas de recargas nas garagens para não afetar a distribuição aos consumidores residenciais”, dizem.
A Mercedes entende que a eletrificação acontecerá de forma viável em um futuro de médio prazo. E, até lá, existem as alternativas intermediárias disponíveis para ajudar na fase de transição.
Outro lado
Em nota, a Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec) informou que todos os questionamentos realizados durante a 3ª Audiência Pública sobre a nova concessão do serviço de transporte público coletivo de Campinas foram devidamente respondidos, durante o evento.
Contudo, não detalhou se os pontos mencionados pelos engenheiros serão revistos. “A Audiência da Licitação do Transporte teve a participação de cerca de 140 pessoas, durou três horas e foi gravada, na íntegra, pela TV Câmara”, destaca o documento.

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